A solução para reduzir o esquecimento associado à idade não vem em forma de comprimido. O diferencial está nos hábitos e no estilo de vida
Hal Arkowitz e Scott O. Lilienfeld
Quando Mick Jagger cantou pela primeira vez “que chatice é ficar velho” (na música Mother’s little helper), há meio século, ele tinha 23 anos. Hoje, aos 73, o roqueiro parece ter encontrado o segredo para permanecer em boa forma física à medida que sua idade avança. De fato, com os inúmeros recursos existentes atualmente, os sinais visíveis dos efeitos do tempo sobre corpo podem ser bastante atenuados. Envelhecer, porém, tem também implicações psíquicas. Muita gente teme a perda de memória e receia estar enveredando pela demência, como a doença de Alzheimer, a mais comum delas. Toda vez que esquecem suas chaves, deixam uma porta destrancada ou não se lembram do nome de alguém, essa persistente preocupação se manifesta. Na maioria dos casos, porém, esses pequenos e irritantes incidentes são parte da perda normal de memória associada à idade – e não um sinal de demência iminente. Embora muitos adultos mais velhos acreditem que esse declínio é inevitável, há boas notícias para muitos deles. Pesquisadores desenvolveram uma série de atividades para exercitarmos nossa mente e nosso corpo, que podem ajudar a reforçar e a apoiar a memória em um cérebro normal que está envelhecendo.
A memória não é uma função isolada. O termo engloba várias modalidades de lembrar, e algumas delas não declinam com a idade. Pessoas mais velhas, por exemplo, continuam dominando seu vocabulário, com seu conhecimento geral sobre o mundo (memória semântica). Elas também são capazes de executar tarefas rotineiras, como fazer uma omelete ou digitar em um computador (memória processual) com destreza mais ou menos igual à que tinham quando eram mais jovens. Mas seu desempenho piora para se lembrarem de fatos recentes em sua vida (memória episódica) ou recordarem onde receberam originalmente uma informação (memória de origem), gerenciar o armazenamento temporário de informações de curto prazo (memória de trabalho) e lembrarse de coisas a fazer (memória prospectiva).
Esta última, em particular, é um alvo fundamental, já que se esquecer de realizar tarefas ou compromissos futuros pode gerar considerável frustração ou mal-estar. Em 2002, o psicólogo Narinder Kapur, do Hospital Geral de Southampton, na Inglaterra, e seus colegas revisaram estudos sobre a eficácia de várias técnicas comuns para reforçar a memória prospectiva. Eles constataram que auxílios externos, como fazer listas ou programar lembretes em um telefone celular, podem ser úteis para reduzir problemas de memória como deixar de pagar contas ou comparecer a reuniões.
Outra estratégia bem-sucedida envolve associar informações a serem lembradas a uma imagem, frase, sentença ou palavra. Quanto mais relevante do ponto de vista pessoal for a associação, mais provável será ser lembrada, uma abordagem conhecida como processamento autorreferencial. Se tivermos de devolver um livro à biblioteca, por exemplo, podemos nos imaginar fazendo exatamente isso. Acrônimos inventados também podem ser uma enorme ajuda. Nessa estratégia, uma pessoa forma uma nova palavra com as letras iniciais daquilo que quer lembrar.
Em 2008, as psicólogas Elizabeth L. Glisky, da Universidade do Arizona, e Martha L. Glisky, na época no Centro Médico Evergreen, em Seattle, descreveram outros métodos que envolvem elaboração visual ou semântica. Em um deles, uma pessoa evoca imagens associadas a algo que ele ou ela quer reter. Para se lembrar do nome “Mônica”, por exemplo, a pessoa pode imaginar a personagem criada pelo cartunista Maurício de Souza.
Embora Glisky e Glisky tenham encontrado sustentação para essas técnicas visuais e semânticas, entre outras, elas fizeram a ressalva de que melhorias de memória no laboratório não se traduzem necessariamente em melhoramentos no dia a dia. Esses benefícios exigem praticar e aplicar as táticas regularmente. A lacuna em eficácia pode ser muito maior no caso de estratégias que envolvem tempo e esforço consideráveis para serem aprendidas. Além disso, melhorias em uma área da memória frequentemente não se generalizam e se difundem para outras.
De modo geral, os estudos encontraram sustentação para a validade da afirmação “Use-a ou perca-a”. Quanto mais exigimos de nossa memória, por exemplo, ao lermos, desvendar quebra-cabeças e participar de jogos de tabuleiros, melhor ela pode ser – provavelmente porque essas atividades envolvem um exercício considerável. É claro que as pessoas que têm memórias mais afiadas também podem ser mais propensas a exercitar sua mente para começo de conversa, o que responde em parte (mas provavelmente não tudo) pela associação entre boa memória e quantidade de estímulo cognitivo.
Se Mick Jagger estiver fisicamente em forma como parece, sua mente pode estar seguindo o mesmo caminho. Alguns estudos constataram que níveis mais elevados de exercícios aeróbicos estão associados a uma memória melhor em adultos mais idosos. Quando o psicólogo Stanley Colcombe e seus colegas da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign revisaram 18 estudos controlados que abordavam essa associação em 2003, encontraram evidências de que a prática desses exercícios de fato levava a uma memória mais aguçada.
Uma atividade aeróbica sustentada pode não ser a única maneira de manter a sua mente ágil e sua memória afiada. Em um estudo recente, a neurologista Ruth Ruscheweyh e seus colegas da Universidade de Münster, na Alemanha, avaliaram a atividade física total em 62 idosos ao longo de seis meses. O questionário da equipe incluía tanto perguntas sobre exercícios formais quanto rotinas diárias como caminhar para o trabalho, subir escadas e praticar jardinagem. Ao final do estudo, os pesquisadores associaram os aumentos de atividade geral reportados, independentemente de que tipo, a melhorias na memória episódica. Quanto maior o aumento dos níveis de atividade, maior o reforço da capacidade mnêmica. Portanto, manter-se fisicamente ativo através de exercícios regulares, com afazeres fora de casa (a pé ou de bicicleta, por exemplo) e execução de tarefas cotidianas, pode ser a melhor receita para revigorar seus poderes de recordação.
A pesquisa sugere que muitas técnicas para fortalecer a memória, assim como um estilo de vida física e mentalmente ativo e estimulante, podem melhorar essa capacidade em adultos com mais de 60 anos. Ainda temos um longo caminho a percorrer antes que tenhamos métodos altamente eficazes, mas, diante do vigor desse campo, podemos esperar grandes progressos no futuro próximo.