Com a chegada da Base Nacional, as empresas de educação oferecem às instituições escolares propostas de conteúdo, formação continuada e consultorias que ajudem a fazer dessa oportunidade uma virada qualitativa na educação brasileira
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) acaba de entrar na educação infantil e no ensino fundamental. Em 2021, será obrigatória também para o ensino médio. Contudo, mesmo estando em implantação, dúvidas ainda são frequentes — e não são para menos, uma vez que tal mudança tem por objetivo transformar a educação brasileira. Educação entrou em contato com diretores de sistemas de ensino que revelam os anseios das escolas quanto à BNCC e explicam como seus produtos e serviços dialogam e sanam essas questões.
O primeiro passo, de entendimento sobre o que é a Base e como inseri-la no dia a dia escolar, está entre os principais questionamentos das escolas privadas que procuram pelos sistemas de ensino. A preocupação com os docentes também é unânime. “A formação dos professores em termos de novas abordagens, como o ensino menos focado em conteúdo e mais em habilidades e competências, tem gerado muitas dúvidas e está tirando muita gente da zona de conforto. Por isso, aqui na Eleva, estamos há dois anos investindo em formação nesse sentido, e tem dado bastante certo. Os professores estão começando a ver como uma oportunidade interessante de melhorar sua performance”, explica Carolina Pavanelli, diretora pedagógica da Plataforma de Ensino Eleva.
O principal desafio é por conta de os docentes terem se formado em um outro contexto, daí a necessidade de um apoio por meio da formação continuada. “A BNCC trata da disposição do conteúdo de forma espiralado. Antes a vertente era única. Por exemplo, porcentagem era dada só no 6º ano, agora é do 4º ao 9º ano, entre outras mudanças. Com isso, há uma dificuldade para esse professor se adaptar”, conta Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais no SAS Plataforma de Educação. Vale ressaltar que o SAS criou uma plataforma de ensino a distância (EAD) de formação continuada, o Focos, e os que percorrem todas as etapas ganham o selo “mestre BNCC” com certificação da Faculdade Ari de Sá.
Ainda em relação à aprendizagem, Ricardo Tavares, diretor-geral da FTD Sistema de Ensino, vai na mesma linha de Ademar ao complementar que: “por conta dessa reorganização entre disciplinas, outro ponto é como fazer a transição tomando cuidado para que os alunos não tenham repetição de conteúdo ou que fiquem sem o conteúdo necessário. Nas ciências houve uma grande reorganização. O 6º ano tinha seres vivos, 7º ano ar, água e solo, 8º corpo humano e 9º química e física. Com a Base, esses conteúdos foram distribuídos nos quatro anos, por isso o receio”, detalha.
Alinhamentos
O sistema de ensino brasileiro precisa estar em conformidade com as leis de educação brasileira. Por essa razão, desde que a Base começou a ser elaborada, ainda em 2015, muitas editoras e sistemas de ensino já estavam atentos às modificações e alertando suas equipes a acompanharem os processos — uma missão e tanto. No final de 2017, a parte do documento referente à educação infantil e ao ensino fundamental foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e oficializada pelo Ministério da Educação (MEC), sendo as escolas obrigadas a implantarem até o início de 2020.
Assim, os livros didáticos tiveram que ser reformulados. Uma mudança como essa, com qualidade, leva tempo, explica Mario Ghio, diretor-presidente da Somos Educação. “Todos os lançamentos editoriais que estão sendo feitos, adequados à BNCC, foram prototipados, pensados, discutidos no ciclo editorial de pelo menos três anos. Você tem um trabalho do próprio autor em que ele antes escrevia o que achava da disciplina. A partir da Base, o próprio autor tem que ser educado sobre qual é o objetivo de aprendizagem em uma determinada série de uma determinada disciplina. A gente começou a estudar a BNCC em conjunto com os autores dos materiais didáticos, desenhando o caminho e depois vem o processo editorial, o protótipo que a gente testa em algumas escolas antes de virar um produto que vai para o Brasil inteiro”, revela.
Com cerca de 100 marcas de sistema de ensino só no país, esse mercado representa mais de quatro milhões de estudantes do infantil ao médio, acrescenta Ghio.
“Conhecedora de que a Base é mais do que uma lista de conteúdos por componente curricular (disciplina) e ano escolar, a editora, desde a primeira versão do documento, em 2015, tem realizado estudos e discussões frequentes com seu time de profissionais responsáveis pela elaboração dos materiais didáticos nas diferentes áreas do conhecimento. Com a homologação da BNCC, passou-se então à definição do novo projeto educacional para o portfólio de produtos e serviços do Piaget que atenda toda a educação básica”, relata Felippe Tribuzzi, supervisor pedagógico do J. Piaget Sistema de Ensino, mostrando consonância de acordo com a evolução da política pública.
Há 117 anos no setor e, atualmente, em 2.020 escolas privadas, atingindo, aproximadamente, 500.040 alunos (sem contar os números na rede pública), trabalho em equipe resume as ações da FTD para que seus produtos e serviços dialoguem com a BNCC. “Temos um grupo com mais de 300 profissionais, entre editores e especialistas da educação que respiram esse documento. Acho que o principal desafio é entender a realidade em que cada escola está inserida para assim, criarmos uma integração com o diretor, coordenador e professor e fazermos nosso papel personalizado e intensivo”, diz Ricardo Tavares.
Visão integral
As dez competências gerais e as habilidades socioemocionais são espelhos de que ser humano se quer formar e surgem diante da necessidade de uma educação para o século 21 não mais focada apenas na transmissão do conteúdo, mas em preparar o estudante para o mundo. “O compromisso com a educação integral do aluno passa pelo desenvolvimento das habilidades socioemocionais como inteligência emocional, empatia, pensamento crítico e criatividade, que desenvolvemos, principalmente, por meio do nosso programa socioemocional, criado em parceria pedagógica inédita com o Instituto Ayrton Senna”, conta Erika Lino, diretora das Escolas em Rede da Conexia Educação, que em três anos já conta com mais de 400 escolas e 150 mil alunos pelo país.
Já na Eleva, o LIV – Laboratório Inteligência de Vida – é um programa socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida. “O objetivo é estimular a prática da empatia, da cooperação e do pensamento crítico, entre outras habilidades. Além disso, montamos um currículo e um material didático de cidadania para todo o ensino fundamental que, por meio de uma abordagem baseada em projetos, compreende quatro grandes ideias em cidadania: vida democrática, cidadania digital, empreendedorismo social e biotecnologia e meio ambiente”, detalha a diretora pedagógica.
O desenvolvimento de aptidões digitais é citado em quatro das dez competências gerais, tendo na quinta — Cultura Digital — destaque único, para o aluno, conforme aponta o documento: “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.
Com tal colocação advinda da própria BNCC, é nítido para o Piaget que é papel da escola e do professor mostrar ao estudante as múltiplas possibilidades de uso das tecnologias, que vão muito além do lazer. “O material da empresa possui a cada volume a seção No mundo digital, justamente para atender a essas necessidades. O objetivo, ao longo dos anos, é apresentar aos alunos softwares, como o de edição, de apresentação e de planilhas, aplicativos, sites e jogos que possam ser usados para a realização de diversas tarefas escolares. Por meio das propostas, os alunos podem editar imagens e textos para produzir diferentes gêneros discursivos, gravar vídeos para simular, por exemplo, um telejornal, realizar pesquisas na internet, exercitar habilidades relacionadas à programação e ao pensamento computacional entre outras ações que enriquecem a aprendizagem”, complementa o supervisor pedagógico.
Já no SAS, entre suas ferramentas, a Eureka!, plataforma gamificada e adaptativa, dialoga com essa competência ao estimular nos jovens do 4º ao 9º ano o interesse pelo mundo da matemática, língua portuguesa, ciências, química, biologia e física via jogos. “O nível de engajamento é de 86%. Sugerimos essa plataforma como atividade complementar, mas que também seja utilizada pelo menos uma vez por semana. Tem escola que faz versão híbrida sala de aula e em casa. Em avaliações externas, os alunos engajados na Eureka! costumam se sair 20% melhor que os demais”, explica o diretor de ensino e inovações educacionais da empresa.
A Metodologia OPEE (Orientação Profissional, Empregabilidade e Empreendedorismo), idealizada pelo psicoterapeuta Leo Fraiman, dialoga com a competência que a Base descreve como Trabalho e Projeto de Vida. “Temos um material que mais de 50% das escolas adotam como complementar que é o Empreendedorismo e Projeto de Vida, do Leo Fraiman, e que com a FTD firmou parceria. O projeto OPEE contextualiza o dia a dia, por exemplo, o controle de finanças – tudo o que o aluno vive e vai viver na vida. Nesse contexto, as escolas trabalham uma aula por semana e quem orienta é um professor de qualquer disciplina eleito por ter uma visão aberta. O projeto conta com assessoria pedagógica exclusiva que trabalha só nesse cenário de desenvolvimento e também em formação com consultores”, descreve Ricardo Tavares, cuja OPEE é oferecida na Iônica, ambiente digital da empresa.
De olho na geração z
Muitas são as críticas ao modelo tradicional de ensino, aquele cujo professor é o centro e os estudantes ficam passivos. Contudo, envolver os jovens nem sempre é tarefa fácil. Na Conexia, o estímulo à aprendizagem e pensamento crítico ocorrem por meio de plataformas digitais que incentivam a autonomia dos meninos e meninas. “Em uma de nossas marcas, por exemplo, os estudantes da educação infantil trabalham por meio de projetos e são incentivados a expressarem suas ideias e acionar seus conhecimentos prévios a partir de uma situação apresentada. Em seguida, são questionados sobre ‘o que queremos saber’ e então, vão a campo explorar e buscar mais informações, de forma ativa e colaborativa. Por fim, são incentivados a refletirem e dialogarem sobre o aprendizado”, afirma Erika Lino.
Por falar em métodos atrativos de aprendizagem, Débora Aladim, com apenas 21 anos, é dona de um dos principais canais educativos do YouTube, com 2.048 mil inscritos e é parceira em ações estratégicas do Conexia. Aliás, na internet, o conteúdo da jovem é voltado a dicas para uma boa redação e em como conseguir estudar, além de resumos de fatos históricos.
Fonte: Revista Educação
https://revistaeducacao.com.br/2020/04/06/bncc-sistemas-de-ensino-mat/