Quatro sinais de que seu trabalho pode estar em risco

Gordon (nome fictício) era vice-presidente de gestão global de contas de uma divisão de US$ 500 milhões em uma grande empresa do setor industrial. Quando me procurou para um programa de coaching executivo, ele tinha um histórico de sucesso de seis anos na condução e implementação da estratégia do grupo, tendo aumentado o faturamento da sua divisão em 50% naquele período. Era reconhecido por colegas e clientes por sua enorme habilidade em construir relacionamentos e em traduzir com eficiência as exigências dos clientes para as equipes de engenharia e cadeia de suprimentos, com o objetivo de melhorar os produtos e a performance da empresa.
Observando seu currículo, ninguém diria que o emprego de Gordon pudesse estar em risco. Mesmo assim, três semanas depois, foi surpreendido pela notícia de que seu cargo havia sido extinto. O que aconteceu? Embora tenha sido pego de surpresa com a demissão, havia sinais claros de problema antes do fato consumado, mas ele não soube reconhecê-los.

Por exemplo, segundo me contou, seis meses antes de seu afastamento, um novo CEO assumira a empresa. Gordon, que sempre tinha sido convidado a participar das reuniões do comitê executivo, agora, inexplicavelmente, estava excluído desse decisivo canal de comunicação. Embora frustrado com o desenrolar dos acontecimentos, ele atribuiu a mudança ao estilo de gestão do novo CEO, em vez de reconhecer ali o prenúncio de perigo potencial para o seu próprio cargo.

A inabilidade do Gordon em ligar os fatos para reconhecer um sinal típico de que seu emprego estava em risco não é algo raro. Às vezes, as pistas são tão sutis, que se torna difícil identificá-las, até que seja tarde demais. No entanto, ficar atento a essas mensagens implícitas é crucial para a sobrevivência da carreira. Se tivesse o “jogo de cintura” suficiente para conversar sobre a mudança de dinâmica da equipe gestora, Gordon poderia ter sido capaz de reconhecer os sinais e se preparar para a demissão – e, quem sabe, até tomar medidas para evitá-la.

Embora pareça contraditório, um ótimo desempenho de suas funções não garante a estabilidade no emprego. Já tive provas presenciais disso, na minha experiência como coach de executivos de diversas áreas. As pesquisas também confirmam essa realidade. Um estudo da Zenger e Folkman mostra que 77% dos funcionários cujos cargos foram cortados haviam recebido avaliações de performance positivas no ano anterior à demissão. Como provaram os pesquisadores, inúmeros fatores pesam na decisão de uma empresa de manter ou desligar um funcionário.

Saber que há diversas razões para o seu emprego estar em risco – algumas, controláveis, outras, não – passa por conseguir identificar os sinais de que algo está errado. Ter consciência dos sinais críticos de instabilidade no trabalho pode lhe dar a chance de administrar a situação de olhos abertos – ou, pelo menos, de começar a procurar um novo emprego antes que a degola se concretize. A seguir, quatro sinais de alerta que não devem ser ignorados:

Uma mudança no topo da empresa.

Assim como aconteceu com Gordon, uma reorganização que represente a mudança de quem está no controle do seu cargo, departamento e/ou empresa pode ser um prenúncio de que nada será como antes. Mudanças na liderança podem precipitar mudanças no status de emprego para indivíduos ou equipes inteiras. Um novo chefe pode querer introduzir uma nova visão, ou contratar gente com quem já tenha trabalhado antes, o que pode ser sinal de tempos difíceis para os funcionários antigos.

Ser excluído dos canais de comunicação.

Vamos nos aprofundar mais no exemplo de Gordon para identificar os sinais que antecederam sua demissão. Quando o novo CEO assumiu, Gordon equivocadamente presumiu que poderia continuar contando com a mesma abordagem de comunicação que funcionava com o antigo. Pensou que a melhor maneira de construir um bom relacionamento com o novo chefe seria dizendo a ele de que forma acreditava que o trabalho deveria ser feito, já que o antigo gestor apreciava esse estilo. E Gordon acreditava que, por ter o conhecimento institucional que faltava ao CEO recém-chegado, o novo chefe iria valorizar sua abordagem direta.

Mas o que ele descobriu tarde demais é que o novo CEO considerava seu estilo muito presunçoso e arrogante, o que resultou na sua exclusão do comitê executivo. De uma hora para a outra, deixou de ser convidado para as reuniões das quais esperava participar e de ter acesso a documentos confidenciais. Foi também excluído do canal informal de comunicação e não conseguia uma resposta direta quando perguntava aos outros o que estava acontecendo. Esses foram os alertas de perigo indicando que Gordon já não tinha o apoio do novo chefe, e de que sua continuidade na empresa estava ameaçada.

Perder um apoiador.

Quando o antigo CEO anunciou sua aposentadoria e deixou a empresa, Gordon perdeu seu principal apoiador. Além disso, Gordon não chegou a desenvolver muitos relacionamentos no nível da diretoria, algo que poderia lhe ter sido útil para ajudar a driblar a transição na gestão, contando com alianças alternativas. Seja qual for o tipo de empresa em que você trabalha, é preciso se perguntar: “Quem estará disposto a me defender?” e entender que é fundamental ter mais de um executivo influente disposto a investir capital político ao seu favor.

Passar a receber poucos projetos.

Outro indicador de que a direção pode estar pensando em dispensá-lo é a redistribuição de tarefas. Se você estava acostumado a ser aquele que liderava projetos no seu grupo, e, de uma hora para a outra, passa a ser ignorado para novas oportunidades, isso é um mau sinal. Situação parecida aconteceu com minha cliente Kathy (nome fictício), diretora de uma instituição de ensino. Sem aviso prévio, e em uma questão de semanas, ela descobriu que suas principais funções estavam sendo redirecionadas para outra pessoa. Cada vez que tentava conversar com seu gestor sobre a questão, deparava com uma muralha de desculpas e mensagens truncadas. Em pouco tempo, foi demitida.

Avaliações de performance positivas – e até mesmo promoções – podem trazer a falsa sensação de segurança. Especialmente em tempos incertos, é fundamental encarar de frente os sinais de que a empresa pode estar prestes a dispensar você. Ao reconhecer os sinais mencionados acima de que seu emprego pode estar ameaçado, será possível tomar as ações necessárias para se preparar e fazer escolhas que ampliem suas opções para o futuro.

Susan Pepercorn é coach de transição de carreira executiva e palestrante. É autora do livro Ditch your inner critic at work: evidence-based strategies to thrive in your career. Já foi entrevistada por inúmeras publicações, como New York Times, Wall Street Journal, Fast Company, the Boston Globe, e SELF Magazine, para falar sobre aconselhamento de carreira.

 

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