Eles são “fortes”, elas são “chatas”

Mulheres e poder – O homem que grita e dá um murro na mesa pode ser considerado grosseiro, mas também é visto como forte. Se uma mulher agir de forma semelhante, fala-se de descontrole, loucura e, não raro, surgem comentários maldosos sobre sua vida particular

Apesar dos avanços e das transformações sociais, é possível que muita gente ainda acredite que, para não terem problemas no âmbito profissional, as mulheres devessem aceitar os modelos que ainda imperam no imaginário masculino: aquela que deseja ser conquistada, a secretária que faz tudo sem nunca pedir nada em troca, a mãe que acolhe e apoia. Mas felizmente muitas já se sentem em condições de assumir o protagonismo, mostrando capacidade, exigindo seus direitos e competindo pelo que desejam. Essa atitude deixa muitos – e muitas – colegas desconfortáveis. Disso resulta uma equação simplista: mais poder para “elas”, menos para “eles”. Mesmo em cargos de chefia, muitas mulheres enfrentam a resistência velada, por exemplo, quando decisões tomadas em sua ausência, como se houvesse um nível sutil de acesso que não lhes é permitido.

A reação explícita a essa situações, entretanto, pode custar caro. Em geral, existe uma crença tácita: só quem tem taxa elevada de testosterona está autorizado a revelar a própria arrogância e a intervir de forma agressiva. O homem que grita e dá um murro na mesa pode ser considerado grosseiro, mas também é visto como forte. Se uma mulher agir de forma semelhante, fala-se de descontrole, loucura e, não raro, surgem comentários maldosos sobre sua vida pessoal. Quando uma mulher tem prestígio e é determinada, geralmente já é definida como intransigente – mesmo por aqueles que não convivem com ela. Possivelmente, prevalece um estereótipo difícil de superar: a competência feminina ameaça mais que a masculina – e isso vale tanto para homens quanto para outras mulheres. Além disso, neles a arrogância costuma ser perdoada, mas nelas não: ele é forte; ela é chata.

Recentemente uma pesquisa da Universidade de Michigan indicou que os estrógenos podem ter papel semelhante no organismo, independentemente do gênero. Um teste revela o aumento da produção de hormônios nas mulheres que têm um comportamento dominante nas situações de conflito. Outros estudos, entretanto, mostram que elas são menos propensas à dominação social e mais inclinadas a tomar atitudes que favoreçam o igualitarismo, enquanto eles tendem a favorecer as hierarquias. Além disso, estão mais propensos a valorizar o próprio trabalho, aceitando compensações e reconhecimentos, ainda que não merecidos.

Já as mulheres muitas vezes sentem que devem render ainda mais, como se as rondasse a culpa de ter feito “um pouco menos” – mesmo que na prática isso não se confirme. E as críticas mais mordazes, não raro, vêm de outras mulheres – o que é compreensível, pois pretendem que as outras também sejam perfeitas. Em geral, o processo se repete em casa, na relação entre mães e filhas. Resultado: espera-se de uma mulher na chefia mais compreensão e de uma subordinada, mais esforço. Talvez não seja por acaso que as mulheres se afirmem principalmente em alguns setores. Quando não estão ocupando posições importantes por motivos familiares, geralmente são as executivas de setores como jurídico, comunicação, finanças. Porém, é pouco provável que se tornem figuras carismáticas, que arrebatam as massas.

Fonte: Mente Cérebro

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